Nota Introdutória:
Nós os Pais e Encarregados de Educação autores desta petição, nós os quefrequentemente olhamos os nossos filhos enquanto brincam e se divertem, einvariavelmente os imaginamos daqui a muitos anos com os seus e os nossossonhos, desejando que alcancem uma vida plena. Nós, aqueles que projectampara os seus filhos as competências para a participação numa sociedade desucesso, e que neles vêem o futuro e a garantia de uma herança culturalcolectiva; nós, esses mesmos, também temos uma palavra a dizer.Na educação, claro! Uma palavra a dizer sobre as políticas educativas quefinalmente parecem ter recuperado um país para a sua própria consciência eque nos provaram, afinal, que em Portugal a cultura de intervenção cívicanão morreu. Esteve apenas adormecida por uma indiferença ao discursopolítico, muitas vezes medíocre, e que efectivamente apenas interessa a quemparticipa nos jogos de poder.Afinal, quando altos valores se levantam, Portugal reage. Enfim, quandoaqueles em quem foi delegado o poder legislativo se esquecem que a lei deveservir a quem neles delegou, Portugal recorda. Porventura, quando osdirigentes revelam não estar à altura da longa tradição de serviço público,Portugal protesta. Quando a falta de cultura social das elites políticas serevela e ultrapassa todos os limites, em matérias que hipotecam seriamente ofuturo colectivo de uma nação, Portugal diz basta!!! A presente petição à Ex.ma Senhora Ministra da Educação é subscrita poraqueles que depositam toda a sua esperança nos filhos. Aqueles que nadaguardam ou poupam, para que as futuras gerações de portugueses possampartilhar um futuro colectivo melhor, e com isso serem eles própriosmelhores homens e mulheres, mais bem preparados, mais capacitados, com maisoportunidades e com melhores perspectivas. Somos pais, e esta é a nossamissão. Para salvaguarda do significado do presente documento e da integridadeintelectual dos subscritores, deixamos aqui uma forte advertência a todosaqueles que nos lêem e que ponderam subscrever esta petição:Em boa verdade, não há ninguém que possa afirmar não ter qualquer ligação àeducação. Em cada família há um aluno, em cada professor uma família. Éespecialmente a estes últimos, e a todos os que desenvolvem a sua actividadeprofissional na área educativa que pedimos um esforço adicional. Antes deprosseguirem para a leitura do texto da petição, saiam da frente docomputador e procurem os vossos filhos. Olhem-nos e admirem-nos. Imaginem oque o futuro lhes reserva e tudo aquilo que para eles desejam. Depois,apenas e só depois deste exercício, regressem e leiam o texto da petição comolhos e alma de pais. Só assim – na qualidade de Pais e Encarregados deEducação - a vossa subscrição será verdadeira, integra e intelectualmentehonesta.
O assunto é demasiado sério, e merece algum cuidado.Leia atentamente a petição, subscreva e divulgue.
Muito obrigado.
PETIÇÃO À SENHORA MINISTRA DA EDUCAÇÃO: Dr.ª Maria de Lurdes Rodrigues
Nós os Pais e Encarregados de Educação declaramo-nos preocupados. A situação a que chegámos é talvez o culminar da "tomada de assalto" das escolas pela burocracia e pelas elites que fomos criando em muitos anos de políticas educativas atípicas para a própria condição humana. Ela reflecte bem o estado geral da educação em Portugal, e não augura nada de bom se não ponderarmos o rumo em que estamos lançados. Várias ameaças pairam sobre a educação nacional neste momento, sobre as quais tecemos as seguintes considerações:
a) Avaliação dos professores: afirmamos a necessidade de um sistema de avaliação de desempenho, tanto para os professores como para as escolas enquanto instituições colectivas.
A avaliação não é uma questão laboral mas sim uma questão educativa de fundo euma indispensável ferramenta estratégica para a melhoria de competências e práticas pedagógicas e científicas, e para garantia da qualidade das aprendizagens.Em consciência, não podemos concordar com sistemas de avaliação "fast-food", criados à luz de critérios economicistas, sem quadros independentes, formados e especializados na problemática educativa, e sem critérios eobjectivos de longo prazo devidamente estabelecidos. É imperativo saber o que queremos da escola moderna e dos novos professores para saber o que vamos avaliar. Consideramos prejudicial aos interesses dos nossos filhos e do futuro do país, um sistema de avaliação que visa pressionar o professor a facilitar a avaliação dos alunos. Os nossos filhos merecem uma preparação efectiva e não meramente estatística. As estatísticas de sucesso podem servir para abrilhantar relatórios, mas não servem os interesses dos nossos filhos nem o futuro do país.
b) O estatuto do aluno – em particular o novo regime de faltas não podemos concordar com o abandono de valores culturais essenciais para a formação do carácter individual e colectivo de uma sociedade de sucesso. Rigor, esforço, dedicação, dever, responsabilidade e disciplina estão cada vez mais longe da escola. Consideramos uma grave subversão dos valores que a escola transmite quando se trata por igual situações que são antagónicas, premiando a irresponsabilidade e prejudicando o empenho. Não há sensação de justiça quando se equipara uma falta por doença ou motivo justificativo a uma simples "balda" ou "gazeta". Acreditamos numa escola humanista, tolerante e geradora de solidariedade que seja capaz de dar todas as oportunidades a todos os alunos. Mas a escola nunca o será verdadeiramente se não for capaz de premiar a competência, reconhecer o esforço, e censurar o desleixo. Apelando à serenidade e a meios de expressão em que prevaleça o respeito pela ordem pública e pela diferença de opinião, prestamos a nossa homenagem, admiração e solidariedade ao movimento estudantil e às associações de estudantes onde, afinal, o espírito crítico ainda sobrevive. É para nós um desejo que as novas gerações possam ser mais pró-activas (e menos passivas)no uso e reivindicação do seus direitos, liberdades e garantias, numa cultura de intervenção cívica própria das sociedades mais desenvolvidas. Lamentamos profundamente e recusamos quaisquer atestados de menoridade ou deincapacidade crítica, implícitos nas insinuações de que os nossos filhos estão a ser manipulados. Aos que as fazem, lembramos as palavras de Epicleto: "Não devemos acreditar na maioria que diz que apenas as pessoas livres podem ser educadas, mas sim acreditar nos filósofos que dizem que sóas pessoas educadas são livres".
c) Apelamos a um debate nacional, e a uma reflexão profunda em tempo de mudança, de uma Sociedade da Informação que se quer transformarem Sociedade do Conhecimento, da velha pessoa "reactiva" para a nova pessoa"pró-activa", que seja um verdadeiro agente de transformação, capaz deconstruir conhecimento, que aluno é que queremos? Em tempo de mudança, dos velhos sistemas analógicos para a era digital, em que jovens teclam tão rápido num telemóvel ou num computador e em que nos habituámos a ver o mundo em mudança rápida e permanente até ficar bem diferente poucos anos depois de se ter iniciado o percurso escolar; que professor é que queremos? Em tempo de mudança, o que é mais importante: traçar um perfil novo para oprofessor, o educando e as aprendizagens e acompanhar com uma avaliação honesta, sensata e rigorosa, ou avaliar sem se saber o que se está a avaliar porque não se sabe o que se quer? Que escola é que queremos? Queremos a escola que Kant nos descreve, quando afirma "É por isso que semandam as crianças à escola: não tanto para que aprendam alguma coisa, mas para que se habituem a estar calmas e sentadas e a cumprir escrupulosamente o que se lhes ordena, de modo que depois não pensem mesmo que têm de pôr emprática as suas ideias"? Ou acreditamos em Tucídides, quando afirma "Não pensem que um ser humano possa ser muito diferente de outro. A verdade é que fica com vantagem quem tiver sido formado na escola mais rude"?
d) Afinal, o que é que queremos construir?! Afinal, o que é quequeremos avaliar?! Resignamo-nos à mediocridade, à falta de meios, à faltade ambição? A maior derrota é perder a capacidade de reflectir. Perder a oportunidade deparar para pensar, para dialogar. Essa perda afecta o homem e a sociedade no seu último elo: a sociabilidade. Ao longo dos últimos anos temos vindo a assistir ao desaparecimento das ciências sociais e humanas dos currículos educativos. À luz daquilo em quese transformou a política – discursos e estatísticas – esta acabou por transformar a educação em Português e Matemática. Como afirmou o reconhecido académico António Damásio, "(...) o ensino das Artes e das Humanidades é tão necessário quanto o ensino da Matemática e das Ciências,(...) Ciência e Matemática, por si, são insuficientes para formar cidadãos". Não admira pois que alguns titulares de órgãos de soberania tenham "fracosíndices de cultura social". São já fruto de políticas educativas avessas àprópria condição de cidadania. Não mudemos nada, e imaginem como serão aqueles que nos governarão amanhã. Resta-nos a esperança de que com o novo modelo de gestão, as escolas passema responder perante a comunidade e não perante o sistema. Resta-nos aconvicção de que com o reforço do peso dos pais e outros elementos dacomunidade na gestão das escolas possamos, em conjunto com os professores eos nossos filhos, mudar um destino fatal. Assim, e pelo exposto, os Pais e Encarregados de Educação abaixo assinado, requerem a Sua Ex.a a Ministra da Educação:
1. A suspensão do Decreto-Regulamentar 2/2008 de 10 de Janeiro, que regulamenta o regime de avaliação de desempenho do pessoal docente dopré-escolar e dos ensinos básico e secundário;
2. A urgente abertura de um processo negocial, que promova um amplo debate nacional e uma reflexão séria sobre os objectivos nacionais a atingir através das políticas educativas;
3. A abertura de um processo de revisão da lei 3/2008 de 18 de janeiro, que aprova o Estatuto do Aluno dos Ensinos Básico e Secundário, de forma aconsagrar princípios de justiça e uma cultura de empenho, rigor, esforço eexigência na vida escolar dos nossos filhos e futuros pais, líderes egarantes deste país. Os abaixo-assinado: Subscreva esta petição em:
DIVULGUE!!!Obrigado.
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