Presidentes de conselhos executivos insistem na suspensão da avaliação de professores
08.02.2009, Graça Barbosa Ribeiro
Os dirigentes das escolas asseguraram aos docentes que não são obrigados a apresentar os objectivos individuais
Quando, depois de longas horas de discussão, 212 presidentes de conselhos executivos de escolas de todo o país saíram do auditório da Fundação Bissaya Barreto, em Coimbra, para reiterar o pedido de suspensão do actual modelo de avaliação de professores, só uns dez se dirigiram aos respectivos automóveis. A maior parte posicionou-se em frente ao edifício, num longo friso em forma de meia-lua, desenhado para as câmaras da TV. "É para a ministra ver que somos mesmo muitos. Quase mais cem do que há um mês!", explicou um deles, antes de uma colega insistir em que o movimento de contestação "está a crescer".
A noite caíra há muito, os jornalistas davam sinais de inquietação à medida que se aproximava a hora dos noticiários das televisões e os presidentes dos conselhos que compunham a moldura batiam os pés, enregelados. "Vá, avança!", incentivou Pedro Araújo, da secundária de Felgueiras, dando um ligeiro empurrão a Isabel Le Gué, da Rainha D. Amélia, de Lisboa.A porta-voz fora escolhida no último minuto, para ler um documento duro em relação ao Governo, mas que ainda estava entalado na impressora. E ninguém tentava disfarçar a desorganização de um movimento que nasceu e cresceu de forma espontânea. "Isso está explícito no documento que infelizmente não estou a ler", chegou a soltar Isabel Le Guê, em resposta a uma pergunta. Atrás, os colegas atrapalhavam a conferência de imprensa, pontuando as declarações da porta-voz com ruidosas salvas de palmas.A presidente da escola da Rainha D. Amélia não terá utilizado palavras tão duras como as do texto da moção. Nela, os PCE dizem, claramente, que "a insistência" do Governo na aplicação de um modelo de avaliação "cujas adaptações têm constituído factores de perturbação nas escolas" "parece responder apenas a um objectivo político que se esgota no mero cumprimento do calendário". E desmentem o Ministério da Educação, que através da Internet se terá referido à apresentação dos objectivos individuais, por parte dos professores, como a primeira fase da avaliação.
"Relativamente aos objectivos, lembramos que não há normativos legais que obriguem à sua apresentação e por isso consideramos não haver razão para alarme", disse Isabel Le Guê. Depois, acrescentou que "o importante é que os professores percebam que são livres e que não se sintam coagidos a tomar uma decisão". "Há coacção, às vezes subliminar", disse a porta-voz. Ao seu lado, Ana Pereira, presidente do conselho executivo da Escola de Paço Sousa, precisou: "Nas escolas há medo e, principalmente, angústia. Medo das consequências, por parte dos que não entregaram os objectivos. E angústia - de uns por terem entregado e de outros por não o terem feito".
Ao contrário do que aconteceu no primeiro encontro, em que participaram 128 presidentes, a possibilidade de demissão em bloco não dominou a discussão. "Não nos demitimos de continuarmos a ter voz. É uma voz pequena, mas está a crescer", avisou Isabel Le Gué. Dentro da sala, o apelo foi mais claro. Se em Santarém o desafio tinha sido chamar "mais colegas" - "para aumentar a capacidade de revindicação" - agora a aposta é que cada um dos 212 leve ao próximo encontro, ainda sem data marcada, "pelo menos mais dois representantes de outras escolas".
Em Lisboa, a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, mostrou ter uma percepção diferente do que se passa nas cerca de 1200 escolas e agrupamentos do país. "Está tudo a correr com normalidade. Com dificuldades, mas com normalidade", disse à Agência Lusa, referindo-se à avaliação.
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