Coimbra, mês de Janeiro de 2005, por volta das 22 horas, Raquel prepara-se para se deitar quando começa a sentir-se agoniada, vomita, presume-se que de restos do Almoço (o Jantar constou de sopa), sente-se melhor, mas mesmo assim, desmaia ainda que por breves momentos.
Os familiares resolvem tranportá-la à urgência dos Hospitais da Universidade de Coimbra. É atendida segundo as devidas prioridades, fazem-lhe exames básicos e complementares de diagnóstico (pedem para se despir e deitar numa marquesa), como auscultação, peso, tensão, análises e uma TAC. Nada a registar negativamente e é aconselhada a descansar, porque pode ser do stress (Raquel trabalha quando quer, não tem horários a cumprir e é Patroa e Empregada, numa actividade mais de natureza lúdica que de obrigação).
Algarve, mês de Junho de 2006, os mesmos sintomas manifestam-se, por volta da mesma hora e sequência. Os familiares levam-na ao Hospital mais perto, o do Barlavento e no momento da triagem são avisados de que se Raquel viesse em ambulância teria um atendimento mais atempado, talvez daí a 40 minutos, mas como veio em automóvel particular, possivelmente só seria atendida passadas cerca de 6 horas. Entretanto Raquel sentiu-se desfalecer e apesar de avisado o pessoal médico, o prognóstico de tempo para o respectivo atendimento manteve-se inalterado (devem ter pensado que tinha havido alguma tentativa de simulação para aumentar o drama?).
Perante este novo cenário Raquel foi levada pelos familiares até ao Hospital Privado (talvez ainda ignorassem as Pragas do Alvor). Atendimento imediato, realização dos exames de diagnósticos semelhantes aos dos HUC. Resultados ao fim de 3 horas e o diagnóstico de que nada de anormal havia de referir. Talvez fazer dieta e descansar mais. À saída e para pagar havia uma factura no valor de 460 €.
Na realidade, Raquel não foi atendida por médicos, nem nos HUC, nem do Centro Hospitalar do Barlavento, nem do Hospital Privado do Alvor, mas por licenciados, com canudo num curso designado de medicina (podia ser de Carpintaria ou de Sapateiro ou de Ferreiro porque os resultados seriam idênticos), uns seres robotorizado (?), ceguinhos (pelo Avastin?).
Raquel, não frequenta praias ou piscinas porque parece uma assombração saída de Auschwitz, é só pele e osso. Este esqueleto ambulante sofre de uma doença designda de Ortorexia. Raquel se ficar infectada com Gripe A H1N1, de certeza que irá engrossar a estatística da mortalidade…
Até meados da década 80 ia-se para Medicina por vocação; agora o dito Curso é apenas um meio para alcançar vocações de outra ordem, como o ascender a um novo estatuto social e económico, por isso as médias altas para frequentar tal curso de elite.
Em boa verdade, a classe médica tem visto os respectivos interesses não ser postos em causa e em algumas das decisões políticas, algo controversas, os benefícios são obtidos em detrimento das necessidades dos doentes.
Os sucessivos Governos nunca foram capazes de produzir um ordenamento jurídico sobre esta profissão (tal como acontece com a Magistratura e a Advocacia); a previsão de uma carreira de três níveis, os Médicos bateram o pé e o Governo aceitou carreira única.
O Professor Doutor Manuel Antunes, num livro que escreveu, tentou contribuir para a colocação de uma certa ordem numa classe com interesses diversificados e contraditórios: Médicos em Medicina Publica ou em Medicina Privada.
Talvez para evitar a ocorrência de situações anómalas: Médicos que trabalham em Hospitais Públicos e que insinuam, junto dos doentes, melhor atendimento nos respectivos consultórios e a partir daqui tentavam direccionar as respectivas intervenções cirúrgicas para clínicas privadas; ou Médicos que, para além do trabalho hospitalar público, nos respectivos consultórios, fazem diagnósticos diferenciados, quando, por exemplo, um Urologista num dia afirma que é perfeitamente possível um doente viver apenas com um dos rins em funcionamento e numa consulta posterior, sem que haja alteração no estado clínico, afirmar ser nefasto haver um Rim a funcionar correctamente junto de Outro que funciona deficientemente e ser necessário a remoção cirúrgica do órgão deficiente.
Quando este Governo tentou fazer uma pseudo-reforma, na distribuição dos recursos clínicos e que na sequência da revolta das populações locais o Ministro Correia de Campos foi obrigado a demitir-se, a Ordem e os Sindicatos dos Médicos mantiveram-se, normalmente em silêncio, na medida em que esta classe foi das mais beneficiadas. O Hospital de Chaves, perdeu algumas das valências e passou a ter apenas Urgência Básica. As deficiências do Serviço Público, como que por magia, foram colmatadas pelas existentes no Hospital Privado local que começou a ser construído.
Durante o Governo PSD de Durão Barroso, havia legislação sobre o premiar da produtividade dos Clínicos, tendo em vista diminuir as listas de espera cirúrgicas. Como resultado, os Blocos Operatórios tornaram-se insuficientes para o número de intervenções cirúrgicas realizadas (Apendicites, Infecções de Vesícula, Abrir e Fechar Estômagos sem qualquer anomalia, etc.) embora o número de pessoas inscritas em listas de espera não tenha diminuído significativamente.
Hospital de Faro, uma pessoa do sexo masculino entra na respectiva urgência com forte mal-estar e dores fortes; fazendo alguns exames, o diagnóstico é arrasador para o utente, Vesícula inflamada e em grave estado de degradação e por conseguinte só existe a solução de intervenção cirúrgica imediata. No dia seguinte, durante a visita matinal, ao pós-operatório, o cirurgião, como que confessa que a inflamação não seria tão séria e que podia ser debelada através de medicação adequada. Numa inesperada visita noturna, o mesmo clínico (talvez por esquecimento do que afirmara de manhã ou para não passar por incompetente) declara que afinal de contas a Vesícula estava num tal estado que, se não fosse extraída, podia originar um Tumor.
Em 2005, foi implementado o sistema da produtividade hospitalar através dos tempos de estadia de internamento. O Hospital de Barcelos foi citado como dos mais produtivos. Na verdade, os dados estatísticos manipulados sustentaram a correcção das medidas promovidas por este Governo. As pessoas entravam na dita unidade hospitalar e tinham alta, poucas horas depois, com o envio do doente para outra unidade de saúde, como o Hospital de S. Marcos em Braga, com a justificação de que Barcelos não tinha os recursos adequados (ainda que pudesse não corresponder à verdade).
Agora, o Governo PS tenta imitar os Governos do PSD, com a Privatização da Gestão Hospitalar, ainda que esteja demonstrado que, caso do Amador-Sintra, a despesa tenha tendência a aumentar.
Mesmo a criação de Unidades de Saúde Familiar depende do sacrifício/esvaziamento de recursos humanos que são tranferidos dos Centros de Saúde, deixando estes exauridos em termos de eficiência e de eficácia no atendimento aos respectivos utentes.
Os Trabalhadores da Função Pública e os Trabalhadores do sector Privado que paguem a crise.
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