Bayard Demaria Boiteux (1916 - 2004)

NA ESCOLA, TAL COMO NO MUNDO, TODOS SOMOS PROFESSORES E TODOS SOMOS ALUNOS.
(Faculdade Economia Porto)

sexta-feira, abril 23, 2010

Contratados & Contratados

Nos tempos que correm, ser-se contratado é descobrir o irreal da situação de nomadismo, escorraçado como força de trabalho barata e descartável.
Jovens que hoje estão em Cantanhede e amanhã em Torre de Moncorvo ou no olho da rua, não augura nada de positivo para a estabilidade do sistema de ensino.
Neste momento sentem-se com a alma vazia, quase desamparados pelos sindicatos e desprezados pelo Ministério.
Mas por vezes alguns cometem erros que outros, sem qualquer culpa, pagarão as favas.
Deste modo, podemos citar algumas situações que validam comportamentos anómalos: alguns dos contratados, nos primeiros tempos, pediam e recebiam ajuda dos sindicatos para efeitos de esclarecimento de dúvidas, tornando-se viciados nesses comportamentos, em situações sucessivas (o mesmo acontece com outros professores dos quadros. – Na Alemanha os benefícios obtidos pelos Sindicatos junto das entidades patronais só têm aplicação legal, nos respectivos filiados), mesmo já sendo docentes dos quadros.

Agora, quase todas as Organizações Sindicais decidiram só prestar esclarecimentos aos que concorriam pela primeira vez e aos seus filiados, na medida em que os restantes, só raramente se filiavam.

Os que nunca se filiaram em qualquer Sindicato, reclamam agora falta de legitimidade dos Sindicatos em os representar e talvez tenham alguma razão, mas não quando os apelidam de traidores, na medida em que sempre agiram oportunisticamente.

Neste caso, porque não aparecer outra estrutura sindical só de contratados que não querem estar filiados.

Alguém que resolva este aparente paradoxo.

Em primeiro lugar é necessário saber distinguir professores contratados com cerca de 10 a 24 anos de serviço lectivo dos Outros.

Estes últimos até podem ter algumas razões de queixa contra o facto de os sindicatos não terem acautelado, em termos de letra da lei, as condições concursais dos contratados em entrarem para lugares do quadro (a anterior ministra já tinha decidido encerrar as portas de acesso aos contratados e foram os Sindicatos que impuseram a esta equipa ministerial a realização de novos concursos; algumas pessoas têm memória curta).

Ora, são os do primeiro grupo, onde se situam os mais inadaptados e os mais críticos em relação aos Sindicatos e aos Governos.

São pessoas que concorreram dentro da área de residência (como se os outros os parvos que concorriam para a aventura não passassem de uns coitadinhos papalvos) sempre nos mini-concursos, depois em concursos de escola com horários esfrangalhados que se transformavam em idílicos centros de trabalho (por exemplo: em concelhos remotos do interior um horário de 22 horas que se dividia em quatro e por ausência de candidatos e se reagrupava para ser atribuído a determinada pessoa).

De repente, começaram a tomar consciência de determinados aspectos/conceitos, que tinham ignorado e para os quais não se tinham preparado psicologicamente, como Profissionalização, Quadro de Zona Pedagógica, Quadro de Escola, etc., e que determinariam ou não o respectivo vínculo, em termos de garantia de exercício profissional.

Aperceberam-se que os tais aventureiros, com menor tempo de serviço, se tinham adiantado, em termos de vinculação e de progressão e se transformaram em senhores feudais e eles se tinham reduzido a servos da gleba.

Deste último clube alguns resistentes decidiram fiarem-se na virgem das vagas/necessidades residuais e neste momento é vê-los vinculados por um canudo até ao último suspiro profissional: desemprego atribulado.

Um casal de professores (percurso de só concorrerem para escolas junto da respectiva residência durante anos a fio) na casa dos quarenta e cerca de 18 anos de serviço, vivendo na zona de Coimbra, com filhos na Universidade, vive um drama para o qual sempre menosprezaram, em relação a outros, ou seja, para o facto de ele leccionar em duas escolas, distantes uma da outra, de forma a poder obter o equivalente a um horário completo (outra originalidade de M.L.R. que ficará nos anais do disparate educacional),  deste distrito, uma das quais que até tem bastantes transportes de acesso, só que com horários incompatíveis, necessitou de adquirir uma viatura a gasóleo e económica.

Por outro lado, a companheira e a mãe dos dois estudantes foi obrigada a deslocar-se, como professora do ensino básico, para uma escola, no fim do mundo, do distrito de Viseu e também sentir a necessidade de tirar a carta de condução e adquirir outra viatura a gasóleo. A disponibilidade habitual de cozinhar petiscos para seus meninos esfumou-se.

Esta família ficou com 3 automóveis novinhos em folha (um familiar e dois de serviço) e as Poupanças entraram numa situação crítica (continuação dos estudos universitários está em risco), talvez pior (proporcionalmente) que a dívida externa portuguesa perante os mercados externos.
Nunca estiveram filiados em qualquer Sindicato por considerarem que seria uma forma de desvalorização social.
São potenciais divorciados...

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