Bayard Demaria Boiteux (1916 - 2004)

NA ESCOLA, TAL COMO NO MUNDO, TODOS SOMOS PROFESSORES E TODOS SOMOS ALUNOS.
(Faculdade Economia Porto)

quarta-feira, maio 26, 2010

Devaneios Libidinosos de um Aluno...

Finais dos anos 60, Liceu Nacional de Leiria (ES Francisco Rodrigues Lobo), havia espaços e turmas reservadas a rapazes e outros às raparigas. Tudo separado, excepto nos professores (as).

Primeiro tempo da manhã, às segundas-feiras, aula de Português, os alunos daquela turma e ao contrário dos ensonados das outras, já estavam todos vivaços, esperando ansiosamente a chegada da professora.

Quando tinham permissão para entrar, a turba procurava os lugares/carteiras com vistas privilegiadas, mas quando ocupavam ilicitamente os lugares dos chefes (n.º1 e n.º2, comme moi, por ordem alfabética) que ficavam na 1ª fila e junto da porta, aí o Poder dos Chefes de Turma vinha ao de cima e o despejo era imediato (mesmo os lugares da segunda fila, n.º7 e n.º8, eram holofotes com algumas perspectivas – mas a ocupação destes dois últimos lugares ficava sempre na posse dos mais audazes).

A secretária dos professores ficava num estrado, junto das janelas e em oposição à porta de entrada (ninguém tinha vontade de sair (…) seria talvez um suplício - abandono escolar na disciplina de Português não existia).

Jovem, bela e com tudo nos conformes, segundo o figurino, gostava de se apresentar ousadamente nos trinques da moda nascente: saias curtas e que curtas...

E quando se sentava e cruzava a perna esquerda sobre a direita, o deslumbramento atingia o clímax.

O silêncio era absoluto apesar de ser das turmas com pior reputação em termos de comportamento.

Os quatro favorecidos não viam nem ouviam uma professora, mas, com os olhos vidrados revirados, era um deleite de estórias imaginativas, embora nada profícuas (as classificações raiavam o mínimo da positiva, embora qualquer aluno mediano obtivesse facilmente, com ela, valores mais elevados).

Os outros ficavam com o resto, quando a demoiselle escrevia no quadro ou quando pedia voluntários para irem escrever ou responder algo; os mais afoitos já estavam no estrado mesmo antes desse pedido (os alunos dos extremos (nº6; nº12; nº13; nº18: nº19; nº24; etc. estavam quase sempre tramados em termos de vistas e de acesso ao estrado).

Quando indicava especificamente um dos alunos, os suspiros de desilusão perturbavam o silêncio e os murmúrios eram mais que muitos.

Uma das vezes, o melhor aluno da turma (tinha a mania de ficar desmotivado com classificações de 18/19 valores) que era dos mais sossegados e quiçá dos indiferentes, foi indicado pela professora e obrigado a corrigir (era muito fácil), no quadro um texto retirado de uma das obras de Afonso Lopes Vieira em termos de sintaxe; perante o súbito deslumbramento, ficou bloqueado, petrificado e cada vez gaguejava mais à medida que ia sendo sucessivamente interpelado sobre as respectivas  omissões (aparentes) de conhecimentos, a esse nível.
Na realidade a Professora evidenciava um sorriso algo maquiavélico de aviso ao resto da turma e nós compreendemos que a postura na sala de aula teria de ser diferente, senão seriam raposas a eito...

Naquela altura, as do estilo das Revistas Playboy francesas eram de circulação restrita, clandestina e vendidas, segundo os cânones da época, a homens maiores de 25 anos (como tudo na vida, existiam sempre planos de contingência…).
Mirandela devia ser apenas uma terreola perdida nos confins de algum descampado... e parece que a saloiada continua a tecer as intrigas de fofoquice da mediocridade.

A Vida é Bela quando queremos e não vale entrar em ondas de falsos puritanismos.

Mirandela, Bragança, Miranda do Douro, etc., Homens e Mulheres (Respeitáveis Pais de família com reputações acima de qualquer suspeita) atravessam a fronterira, quase todos os fins-de-semana, e rumam, normalmente a Zamora em busca da movida castelhana ou em direcção aos rincóns de Sanabria e não é pelos motivos mais saudáveis...

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