É a contragosto que me vou debruçar sobre uma temática que tem tanto de actual como de sensível. Para alguns. E espero sinceramente que o que venha a ocorrer não corresponda, na realidade, ao que prevejo. Porque não desejo mal a ninguém e a inveja não faz parte dos meus sentimentos, personalidade e postura na vida.
Com efeito, eu não tenho medo que venha aí o FMI, porque sou dos muitos que vão ver o rendimento reduzido, de uma forma ou de outra. E tenho a certeza de que todos aqueles que usufruem de baixos rendimentos, passando pela chamada “classe média” (em vias de extinção, porque é quem suporta o grosso da despesa do Estado), todos os que vivem de um salário e até boa parte dos pensionistas também não têm que recear a vinda do FMI. Porque a todos estes já vão “cortar as unhas” e decerto que o FMI não imporá que lhes “cortem os dedos”.
Pois teríamos que comprar muito “sangue” ao exterior por insuficiência de “dadores” nacionais!
Então, quem terá medo do FMI? Porventura, os que vão ter que reduzir ao número de Secretárias, de membros de Gabinetes e Assessores, de Motoristas. Provavelmente, também aqueles que promovem muitas inaugurações, participadas por imensos convidados que deveriam estar a trabalhar e a contribuir para o aumento da riqueza nacional e do PIB. Talvez também aqueles que ocupam lugares, que usufruem de apreciáveis remunerações e não fazem nada (muitos também não o sabem), tendo direito a carro de serviço, telefone e motorista pagos pelo erário público. Mas dão um grande contributo para o país, porque tornam Portugal mundialmente competitivo, ao nível do número de membros do facebook, apesar de sermos apenas 10 milhões!
E que dizer das viagens ao estrangeiro em missões governamentais e empresariais? Que resultados têm dado, além da venda dos “Magalhães” à Venezuela? Quanto nos custam, a nós, contribuintes essas viagens? E as nomeações que continuam a ser feitas para determinados cargos como, por exemplo, em plena crise, a do Conselho de Administração da Fundação Cidade de Guimarães, entidade gestora da Capital Europeia da Cultura 2012, em que à Presidente foi atribuída uma remuneração de 14.300 € mensais, reduzida depois para 10.000 € por mês (isto não é inveja, mas haja pudor e vergonha) e os Vogais, coitados, ficaram a auferir apenas 8.750 € cada um!
Ora, os nossos afamados economistas dizem que são as exportações que nos podem valer. Mas de quê? Do excesso de imóveis e apartamentos que dispomos relativamente às nossas necessidades? Não é tarefa possível, dado o nosso tipo de construção. Até nesta matéria aconselho uma viagem à Holanda, país onde todo o tipo de construção é aproveitado, com modelos bastante criativos, funcionais e confortáveis, e se, por acaso, a população holandesa vier a diminuir, uma boa parte deles é exportável. Ou vamos exportar &l dquo;horas de sol” de que dispomos? Seria óptimo que os nossos cientistas começassem a pensar nisto.
Também poderíamos “arrendar” parte da nossa zona económica exclusiva, a maior da Europa, com um mar imenso, depois de termos desmantelado a quase totalidade da nossa frota pesqueira a troco de uns fundos europeus que há muito se esgotaram.
Pois, é pena que este espaço se esteja a esgotar, porque muito mais teria para dizer. Mas deixo uma mensagem aos cidadãos que não usufruam de privilégios injustificados: não tenham medo do FMI. Porque, a nós, o FMI não vai “cortar os dedos”. Vai, sim, “cortar as unhas” a quem as tem ainda grandes. Para nós será bom que o FMI venha depressa ou já. Até porque será inevitável e quanto mais tarde pior. E, para vos provar isso, vou apresentar alguns números, esforçando-me para que todos os leitores entendam.
A dívida pública portuguesa ronda os 142 mil milhões de euros. Se pagarmos juros a uma taxa média de 5% (a taxa actual anda nos 7%), isto significa que, anualmente, temos (nós portugueses) que suportar 7,1 mil milhões de euros em juros. Como a nossa riqueza (PIB) não cresce nesta proporção, o nosso PIB anual é de cerca de 165 mil milhões de euros que, só para suportar os juros, teria que crescer 4,3 % ao ano, quando as previsões são de 0,8% de crescimento do PIB.
Ou seja, a dívida pública vai continuar a aumentar, o que significa que vamos ter que contrair mais empréstimos. Então, se assim é, por que teimamos em continuar a pagar juros a uma taxa de 7% (com tendência para aumentar) quando podemos obter empréstimos avalizados pelo FMI a cerca de 3% de taxa de juro? É como se o leitor tivesse um Banco que lhe concedesse um empréstimo para a aquisição de habitação a 3% e optasse por um outro que lhe cobrará juros a uma taxa de 7%.
O grande problema é que, para nos ajudar, o FMI impõe (e muito bem) condições. Desde logo, pela implementação de medidas de austeridade a serem aplicadas pelo Governo, a partir do diagnóstico efectuado. Ou seja, “cortar as unhas” que ainda restam por cortar e vigiando para que essas “unhas” não voltem a crescer demasiado. Portanto, meditem um pouco e concluam quais as “unhas” que ainda têm que ser cortadas.
Já agora e para concluir, que vantagem nos trouxe a Cimeira da Nato realizada em Lisboa? Prestígio e notoriedade para o país? Quanto nos custou esta “vaidade”? Gostaria de saber, porque certamente não foi pouco, começando pela produção que deixou de ser realizada e prejudicou o nosso PIB, ou seja, reduziu o rendimento do país. E não estou a vislumbrar que benefícios económicos, nos possa trazer a realização desta Cimeira em Portugal. Se os houver então que nos digam quais são e quanto. É que, numa altura em que as dificuldades são muitas, fazer figura de país rico é de todo incompreensível.
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