Dia Mundial do Livro
Em termos de Globalização, um livro/teatro escrito em 1932, Deus lhe Pague, por Joracy Camargo, continua a ser um meio/referência de nos colocar perante o facto de questionarmos se paradigmas antigos, aparentemente desfasados no processo histórico, estarão mais do que actualizados.
(...)
OUTRO:
Os homens não precisam de nós…
MENDIGO:
Precisam, senhor… Como é o seu nome?
OUTRO:
Barata.
MENDIGO:
Precisam, mas não dependem; e é por isso que nos olham com ternura.
OUTRO:
Ora! Quem é que precisa de um mendigo?
MENDIGO:
Todos! Eles precisam muito mais de nós, do que nós deles. O mendigo é, neste momento, uma necessidade social. Quando eles dizem: “Quem dá aos pobres, empresta a Deus”, confessam que não dão aos pobres, mas emprestam a Deus… Não há generosidade na esmola: há interesse. Os pecadores dão para aliviar seus pecados; os sofredores, para merecer as graças de Deus. Além disso, é com a miséria de um níquel que eles adiam a revolta dos miseráveis…
OUTRO:
Mas quando agradecem a Deus, revelam o sentimento de gratidão.
MENDIGO:
Não há gratidão. Só agradece a Deus quem tem medo de perder a felicidade. Se os homens tivessem certeza de que seriam sempre felizes, Deus deixaria de existir, porque só existe no pensamento dos infelizes e dos temerosos da infelicidade. Quem dá esmola pensa que está comprando a felicidade, e os mendigos, para eles, são os únicos vendedores desse bem supremo.OUTRO
(desanimado): A felicidade é tão barata…
MENDIGO:
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