Nos últimos anos, com as restrições orçamentais em diversas áreas de índole social, como a saúde e em benefício de outras acções mais eleitoralistas (estádios de futebol; TGVs; Auto-estradas para todos os gostos; tachos e tachinhos para os amigos; etc.) os portugueses verificaram que a humanização dos actos médicos estava a desaparecer.
A dignidade dos actos médicos transformou-se numa relação fria e equidistante, porque assim mandam os procedimentos/evidências, em termos de processos de avaliação e o doente passou a ser encarado como um mais número/despesa que só vinha desequilibrar as contas públicas.
Em muitos hospitais, principalmente no caso dos I.P.O., a assistência continuada da morte dentro do centro hospitalar, para a maioria dos doentes, em situações de morte irreversível, como o cancro, encontra-se em vias de extinção, porque só as classes económicas média-alta têm algum privilégio, ao poderem morrer em condições mínimas de dignidade.
A mínima hipótese de sobreviva (enquanto há vida, há esperança...) foi eliminada dos manuais.
Mas esse diagnóstico de doença cancerosa resultante de negligência organizacional tem vindo a aumentar e mesmo em situações de probabilidade baixa de remissão (20 a 30%) é considerada irresolúvel até ao momento em que as metástases justifiquem o normativo anteriormente estipulado (até ao ano de 1988 todas as hipóteses de sobreviva eram consideradas).
A mínima hipótese de sobreviva (enquanto há vida, há esperança...) foi eliminada dos manuais.
Mesmo o recurso a outras terapias, como o uso de células estaminais ou outros fármacos, tem sido desaconselhável pela Gestão Hospitalar, na medida em que, quando questionados sobre essas inovações, os médicos, com um tom de voz algo hesitante, admitem, em certa medida, a viabilidade do processo de solução (como que à socapa), acrescentando sempre que ainda não têm os meios técnicos, nem autorização superior ou legislação regulamentar adequada para suportar tais actos médicos.
Por isso, é que por vezes, os idosos entram nos hospitais com domicílios falsos, dados por familiares, ficando ali a definhar até que a morte os leve dentro da solidão de cada um.
Inúmeras unidades de saúde pública (as privadas cobram-se de tudo o que os internados têm e o que não possuem), mudaram os comportamentos sociais e encararam as situações apenas em função dos benefícios de natureza mais economicista.
Os chamados cuidados paliativos transferiram-se do social para o negócio privado altamente lucrativo, principalmente sob a alçada de entidades financeiras.
E quem não tem meios financeiros abastados, como os do salário mínimo, por vezes sem outros familiares próximos, sente-se perdido, porque, por um lado, tem de trabalhar para o sustento da casa e por outro lado é obrigado a prestar assistência permanente a familiar sem futuro.
À sua maneira todos vamos morrendo, uns mais depressa e dolorosamente em termos físicos, enquanto que os outros mais no campo do espírito.
A maior parte destas famílias nem têm ganhos económicos suficientes para minimizar a dor, nem capacidade logística para acomodar e sem apoio específico organizado e interdisciplinar, com alguma dignidade o ente querido que se encontra no corredor da morte...
Falar de doenças oncológias foi apenas um exemplo conhecido, mas Alzheimer, Parkinson, Esclerose Múltipla; Artrite Reumatóide; Acidente Vascular Cerebral; etc., também geram situações delicadas.
Os políticos preferem o futebol para distrair a populaça de outras realidades mais dramáticas.
Falar de doenças oncológias foi apenas um exemplo conhecido, mas Alzheimer, Parkinson, Esclerose Múltipla; Artrite Reumatóide; Acidente Vascular Cerebral; etc., também geram situações delicadas.
Os políticos preferem o futebol para distrair a populaça de outras realidades mais dramáticas.
Um comentário:
Em tempos, também passei por situação idêntica, onde a solidão e a incompreensção de nós sobre a nossa própria pessoa, apesar do apoio externo, ultrapassa tudo o que se possa imaginar.
Sentimo-nos pessoas inúteis perante o fim da vida de outros.
O apoio dos serviços de saúde é mais formal do que prático, muita burocracia e custos muito elevados...
Lares, nunca foi opção a colocar, mesmo em momentos de maior desespero.
Lares, apesar da sua utilidade, perante a nossa impotência face a tanto sofrimento, ainda nos parece, talvez com algum preconceito, como um atirar "lixo" para outros.
Velhos são os trapos e estes é que deverão ir para o lixo.
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