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Dizem
que sou refém! Dizem que me estão a prejudicar a vida! Todos falam do
meu futuro, preocupam-se com ele, dizem que interessa, que mo estão a
prejudicar…
Ando há 12 anos na escola, na escola pública.
Durante
estes 12 anos aprendi. Aprendi a ler e a escrever, aprendi as
banalidades e necessidades que alguém que não conheci considerou que me
seriam úteis no futuro. Já naquela altura se preocupavam com o meu
futuro. Essas directivas eram-me passadas por pessoas, pessoas que
escolheram como profissão o ensino, que gostavam do que faziam.
As pessoas que me ensinaram isso foram também aquelas que me
ensinaram a importância do que está para além desses domínios e me
alertaram para a outra dimensão que uma escola “a sério” deve ter: a
dimensão cívica.
Eu não fui ensinada por mágicos ou feiticeiros,
fui ensinada por professores! Esses professores ensinaram-me a mim e a
milhares de outros alunos a sermos também nós pessoas, seres pensantes e
activos, não apenas bonecos recitadores!
Talvez resida ai a minha incapacidade para
perceber aqueles que se dizem tão preocupados com o meu futuro. Talvez
resida no facto de não perceber como é que alguém pode pôr em causa a
legitimidade da resistência de outrem à destruição do futuro e presente
de um país inteiro!
Onde mora a preocupação com o futuro dos meus filhos? Dos meus netos? Quem a tem?
Onde morava essa preocupação quando cortaram os horários lectivos para metade e mantiveram os programas?
Onde morava essa preocupação quando criaram os mega-agrupamentos?
Onde morava essa preocupação quando cortaram a acção social ou o passe escolar?
Onde
mora essa preocupação quando parte dos alunos que vão a exame não podem
sequer pensar em usá-lo para prosseguir estudos pois não têm posses
para isso?
Não somos reféns nessa altura?
E a
preocupação com o futuro dos meus professores? Onde morava essa
preocupação quando milhares de professores foram conduzidos ao
desemprego e o número de alunos por turma foi aumentado?
Todas as atrocidades que têm sido cometidas
contra nós, alunos, e contra a qualidade do ensino que nos é leccionado
não pode ser esquecida nunca mas especialmente em momentos como este!
Os professores não fazem greve apenas por eles,
fazem greve também por nós, alunos, e por uma escola pública que hoje
pouco mais conserva do que o nome. Fazem greve pela garantia de um
futuro!
De facto, Crato tem razão quando diz que somos reféns, engana-se é na escolha do sequestrador!
E
em relação aos reféns: não são só os alunos; são os alunos, os
professores, os encarregados de educação, os pais, os avós, os
desempregados, os precários, os emigrantes forçados... Os reféns são
todos aqueles que, em Portugal, hipotecam presentes e futuros para
satisfazer a "porra" de uma entidade que parece não saber que nós não
somos números mas sim pessoas!
Se há momentos para ser solidária, este é um deles! Estou convosco
Inês Gonçalves
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