Bayard Demaria Boiteux (1916 - 2004)

NA ESCOLA, TAL COMO NO MUNDO, TODOS SOMOS PROFESSORES E TODOS SOMOS ALUNOS.
(Faculdade Economia Porto)

domingo, outubro 19, 2008

O CALOR DO STRESS…

A seguir ao 8 de Março de 2008, gerou-se um movimento de imposição ao ME de determinados princípios e de anulação de normas violadoras de direitos dos professores, adquiridos durante duras lutas sindicais em décadas passadas. A plataforma de 14 Sindicatos (alguns com tantos filiados como dirigentes e resultado de interferências políticas, para minar o movimento sindical), depois de inúmeras reuniões turbulentas chegou a um consenso de propostas a negociar com o Ministério. Mário Nogueira, nomeado líder da Plataforma, dirigente do maior dos sindicatos (Fenprof cujo secretariado é formado por uma maioria não afecta ao PCP), deu a cara, para o bem e para o mal. No entanto, os dirigentes da Plataforma, antes da celebração de qualquer acordo com o ME, quiseram ouvir as bases e, por todo o país, foram realizadas reuniões em Agrupamentos e Escolas Secundárias. Todos os professores, sindicalizados ou não, tiveram oportunidade de discutirem tudo e de votarem, pelo Sim ou pelo Não. Dos que participaram e votaram, cerca de 70% aprovou os conteúdos do Acordo. Mas será que esses 70% representaram 70% dos professores? Claro que não. Em algumas Escolas, apesar de terem toda a liberdade de participação, a maioria dos Professores alheou-se dessa situação, principalmente, quando, no acordo, constava uma cláusula que adiava o Processo de Avaliação para o próximo ano lectivo (com avaliação de todo o Processo a ser discutido no final; como estamos em vésperas de Eleições, todo este processo pode ficar em águas de bacalhau, sendo anulado e designado de período experimental), ficando os Contratados com o ónus da vitimização desse processo neste ano lectivo de 2007/2008 (eram os outros). Agora, os que votaram contra (30% dos participantes) e os abstencionistas/indiferentes descobriram que, afinal de contas, eles também iam ser avaliados e que estavam metidos num grande imbróglio burocrático e temporal: estavam lixados. Vai daí, resolveram, via Net derramar lágrimas de impotência e de desespero perante a impossibilidade de conseguirem ultrapassar todos os obstáculos e assim terem sucesso na inevitável avaliação do desempenho. Onde estavam os professores que nunca fizeram greve e ainda ridicularizavam os que as faziam (maioritariamente sindicalizados), no dinheiro que poupavam? Onde estavam os Professores quando foi publicado o novo ECD e o 75/2008? Onde estavam os professores a quando da realização dos concursos para Professor Titular? Era o salve-se quem puder. Os Sindicatos ainda pediram que os professores não concorressem e, por isso mesmo, alguns desvincularam-se do movimento sindical, estando, neste momento, na frente de batalha dos movimentos sociais de contestação. Penso que essa contestação não tem razão de ser, neste momento (Estratégia) e pelas razões invocadas (Avaliação), em virtude de que a Sociedade não aceitar que os Professores recusem ser avaliados. É evidente que existe o direito de protestarmos contra a forma como o ME tem desvalorizado a profissão de Professor, culpados do deficit das contas públicas. Mas, esses protestos devem-se fazer sentir, na altura própria e não só quando estamos no meio da turbulência. Parece haver, neste momento, um descarregar, em desespero de causa própria, de culpas de auto-mutilação, sobre os Sindicatos e sobre o ME, associando-os, diabolizando-os, pondo-os no mesmo lado da barricada, esquecendo que o verdadeiro inimigo se encontra na 5 de Outubro. Claro que, no meio de algumas das movimentações sociais dos professores, pode haver, igualmente uma mãozinha marota de apoiantes do actual Governo, para sabotar todo o processo de luta. Agora, estamos com duas manifestações marcadas em Lisboa. Não interessa saber quem divide quem (talvez vá às duas, a do dia 8 e a do dia 15). Mas, tentar compreender o facto de que o número de pessoas presentes, no conjunto das duas manifestações, poder não chegar aos tais 100 000. Porquê? 1. No ano lectivo anterior, o 8 de Março culminou a realização de anteriores inúmeras manifestações locais, por todo o Portugal (preparação psicológica) e agora o processo parece ser o inverso. 2. Em algumas Escolas o Processo de Avaliação está a ser pacífico e ninguém parece estar em stress: A. Murmura-se, nos corredores da 5 de Outubro (guerra civil interna – por exemplo: comparem o site do ME hoje com o do ano lectivo anterior), que todo o processo virará período de experimentação B. Fazer ou não fazer Portefólio não é motivo para sanção negativa na avaliação. C. No mínimo todos terão classificação de Bom. D. As classificações de Avaliação do Desempenho, a partir de relatórios dos avaliadores, serão discutidas e votadas em cada um dos Departamentos. E. A Comissão Central de Avaliação de cada Escola apenas ir-se-á pronunciar sobre a atribuição da classificação de Muito Bom e de Excelente e no corrigir de algumas classificações enviesadas. a. Diferenciar leccionação de tipo de cursos – CEFs, Profissionais, EFAs, etc. b. Dinamização e Participação em Clubes e Projectos de Enriquecimento Curricular Formal e/ou Informal. c. Promover a Imagem da Escola junto da Comunidade. Pensamos, pois que se a grande maioria dos Professores está à beira do desnorte, então a culpa deve ser assacada, em primeiro lugar aos respectivos Conselhos Executivos/Conselhos Pedagógicos/assembleias de Escola que estão com uma arrogância de Poder perante uma Tutela sorridente, sobre os subordinados, os professores. O ME esfrega as mãos de contentamento quando os Órgãos de Gestão/Direcção fazem o trabalho sujo (mais papistas que o Papa) e pensam, desta forma, vir a ser recompensados no futuro como Reitores e o aval dos Governos. Na realidade, não se prevê Sangue, no tipo de escolas onde reina uma aparente trégua com o ME e os Professores encaram a situação com naturalidade, embora preocupados com o futuro. Futuro que poderá conduzir a situações muito mais problemáticas, nomeadamente quando ficar em causa a instabilidade nos Quadros das Escolas e os docentes começarem a aprender Salamaleques e a saudar o Gauleiter Escolar com: Heil Siegel.

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