(Nomes Próprios são Fictícios)-
João…, natural de Verdelhos (Covilhã) encontra trabalho, nas obras, perto de Ourém e conhece, em Dezembro de 2001, Ermelinda…, nascida e criada em Bragado (V.P. Aguiar) que era empregada doméstica interna.
Ermelinda ao fazer 18 anos tomou-se de amores por Tomás, rapagão bem-criado e que, tal como ela, também era pastor na vezeira. Tomás era de aldeia vizinha e tinha reputação de valdevinos, de enganar jovens e Ermelinda seria mais uma das suas vítimas. Seis meses depois, a moça, apesar de avisada nunca levando a sério os ditos sobre as aventuras e desventuras do jovem, acordou para a realidade quando soube que ele estava emigrado nos states; nada lhe dissera, deixando-a como a uma viúva; Ermelinda tinha-se-lhe entregado e agora parecia que a maldição da vida lhe coarctava a alegria da juventude. Os anos foram passando e resignada ao seu destino com 26 anos de uma Tia para a eternidade, aceitou a oportunidade de sair daquele lugar que se lhe tornara opressivo e entrar ao serviço doméstico como interna de uma família de classe média de Ourém.
João artista da poda soube logo como haveria de entrar no coração de uma Ermelinda triste, e esta conformada, deixou-se levar, talvez como forma de resolver e esquecer infortúnios passados. Durante o namoro, joão tinha a mania de lhe dar uns tabefes, meio a rir, meio a brincar e a moça, ria-se daquele tipo de brincadeiras.
A primeira situação mais embaraçosa, aconteceu na noite de núpcias, quando João meio embriagado a obrigou a beber ao mesmo tempo que iniciava intimidades em frente dos amigos, rindo-se e bebendo. Ermelinda, na manhã seguinte, ao acordar, sentiu-se inquieta, sem saber de concreto o motivo, sentiu-se agoniada e suja; Ermelinda de nada se lembrava e queria perguntar a João o que realmente acontecera. Mas joão já se tinha ausentado para parte incerta. Ermelinda chorou, chorou quase em sussurro; não discernindo o passar do tempo.
Durante os três anos seguintes de paz, duas crianças vieram a este mundo, um era o rosto do pai e o cabelo da mãe, enquanto o outro teria parecenças com ambos os progenitores no geral, apesar de o cabelo ser diferente ao de ambos os pais, estilo carapinha. Foi aqui que a situação se começou a desequilibrar, quando um amigo de João insinuou a breve suspeita de algo não estaria bem, em relação ao segundo filho. João, desconfortável sentiu-se humilhado, perante os amigos e os seus pensamentos levaram-no a pensar naquilo que não queria pensar. Começou a ficar mais tempo com os amigos e atrás de uma cerveja vinha um bagaço e mais outro e mais outro. O inferno de Ermelinda começou quando João ao chegar a casa embirrava com tudo e com todos, quando as cenas domésticas se tornaram mais violentas em termos verbais. Ermelinda nada compreendia porque João nunca mencionava as suspeitas que lhe zurziam na cabeça.
O ciúme patológico, toldado pelo álcool, começou a desenvolver-se e a gerir as relações de conflitualidade.
Ermelinda, começou a aparecer, no trabalho, agora como empregada doméstica externa, com nódoas negras, primeiro no corpo coberto e depois em zonas mais visíveis, como o rosto. Nos primeiros tempos, a patroa nada lhe disse, abraçou-a e compreendeu todo o drama, porque, na verdade, o Sr. Dr., seu marido, também tinha procedimentos semelhantes, apesar de serem escassas essas ocasiões. Dessa estranha relação foi-se consolidando uma cumplicidade entre as duas mulheres, cada uma vivendo uma solidão muito própria.
À violência física, como as bofetadas, os socos e os pontapés, João exercia outras formas de violência, mais incisivas e que feriam mais, como a agressão verbal através dos insultos mais escabrosos, ameaças à integridade física e moral de Ermelinda, assim como fazer flirt a outras moças em frente dela, como a recusa em dar apoio financeiro para o sustento da família, já não abordando aquilo que a sociedade portuguesa ainda não aceita: a violação sexual ilegítima da mulher por parte do cônjuge.
Ermelinda foi aguentando até decidir apresentar queixa no posto da GNR, mas os guardas riam-se e troçavam, talvez porque se sentiam identificados com João; no entanto o auto chegou ao Ministério Público que confrontou Ermelinda com o facto de a Lei apenas a proteger formalmente, porque na realidade o agressor ficaria impune até cometer um ato mais sério; a solução seria Ermelinda procurar refúgio, numa qualquer instituição de solidariedade social e abdicar do passado, esquecendo-o, como que Ela devesse passar à clandestinidade.
Ermelinda não estava preparada para dar esse passo e decidiu aceitar esta situação de crueldade, como castigo de Deus, pelos seus erros do passado...
A Ermelinda só lhe interessava proteger os filhos da fúria do álcool, porque achava que o João até era boa pessoa e o álcool o verdadeiro culpado.
2008 a situação continuava a agravar-se… Resta saber até quando…
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