Perante ideias de conceitos tão vagos, todas as ilações podem ser consideradas como válidas, principalmente para os interesses do Ministério da Educação, como forma de culpabilizar alguém e tirando a água do capote que tem sustentado as respectivas acções desnorteadas.
Na realidade, diversos têm sido as vias para que o sucesso educativo e o não abandono escolar, não estraguem as estatísticas educacionais portuguesas:
1 – Governo de Cavaco Silva: os alunos só não passam no básico do preparatório e/ou no básico do unificado se os papás assim o entendessem.
2 – Governo de Sócrates permite que os exames nacionais Ad-hoc (maiores 25 anos) se transformem em exames realizados por cada Universidade e sem controlo da veracidade dos respectivos resultados (maiores 23 anos). Assim, jovens sem o 9.º ano, ou o abandonaram faz alguns anos ou aceitam um novo desafio, frequentam a Universidade e esta para não ser obrigada a fechar cursos, por falta de alunos (dinheiros), absorve o refugo da escolaridade (!). Excepto a Universidade Católica Portuguesa, não se vislumbra, no horizonte do panorama educacional do ensino superior, outra Universidade privada do mesmo gabarito; todas as outras navegam pelo mesmo diapasão da Independente.
3 – Normalmente, o abandono escolar, durante o básico unificado, está ligado a diversos factores:
a). Famílias destruturadas e cujos filhos apresentam comportamentos desviantes. Nestes casos, Pais e Professores, por diferentes razões, tentam encaminhá-los, para cursos profissionalizantes de outras escolas (CEF), que ficam com a batata quente.
b). Alunos que se sentem marginalizados pelos conteúdos programáticos. Em 20 anos de profissão, os programas, da minha área disciplinar, têm mudado, segundo a batuta da tutela, mas, com estilo de andantino: vira o disco e toca o mesmo.
c). Famílias de parcos recursos em que os filhos vão contribuir para o aumento do rendimento familiar (trabalho clandestino: Calçado; Vestuário; Serrações; etc.).
d). Interioridade, quando os alunos são obrigados a exercer, cumulativamente aos estudos, trabalhos de lavoura, todos os dias; o tempo de estudo torna-se escasso e desmotivante.
4 – Em relação ao ensino secundário, principalmente, no âmbito dos exames do 12.º ano, algumas escolas tentam ultrapassar o trauma dos maus resultados do Ranking através de diversas acções de duvidosa legalidade:
a). Seriação à entrada de alunos, consoante as classificações do 9.º ano, a origem social e económica dos progenitores, com ou sem NEE (apenas tolerância em alguns níveis de Surdos-mudos), etc. Os outros, os que denotam prováveis dificuldades de aprendizagem são impedidos de se matricularem, mesmo que vivam dentro da área de residência abrangida por esse estabelecimento de ensino, com o argumento de que as turmas se encontram cheias…
b). Constituição de turmas por ordem hierárquica dos factores anteriormente referidos.
c). Esta hierarquização conduz à formação de uma hierarquia horária de cada turma e à definição e atribuição dessa carga horária a determinados professores.
d). Os alunos que, porventura revelem dificuldades acrescidas, no 12.º ano e de forma a não colocarem em risco os resultados nos Rankings dos exames nacionais, são convidados, no início do 2.º período a desvincularem-se e fazerem os exames nacionais como alunos externos; mesmo assim, parece existir uma insinuação maliciosa, por parte da escola/professores, quando lhes dizem: se fizeres os exames em determinadas escolas, é provável que nós façamos a respectiva correcção e aí tudo é possível …
5 – Professores turbo do ensino Básico/Secundário com acumulação: escola oficial (onde, em situações de crise profissional, tendem a faltar com maior probabilidade) + escola profissional (se não fossem os subsídios principescos já tinham fechado as portas) + colégio particular + explicações. Aliás, existem situações em que um professor que, acumula horas em escolas privadas não nos máximos estabelecidos por lei mas, lecciona 22 horas semanais, embora as aulas ilegais estejam identificadas com outras pessoas (falsos professores).
6 – Ensino Superior:
a). Professores, das Universidades Privadas, que se auto-intitulam Catedráticos (da treta) sem apresentarem percurso académico credível e com doutoramentos engraçados… (muitos doutorados – ensino público ou ensino privado – vão ao estrangeiro, como Alemanha; Dinamarca; Suécia; etc., fotocopiam várias teses de doutoramento, sobre determinado assunto e se possível em Universidades obscuras, fazem um ensopado e apresentam a sua tese). Parece que na Independente se vendiam títulos de Mestrado, sem tese de investigação…
b). Professores turbo: como Cavaco Silva que, antes de ser primeiro-ministro, era simultaneamente funcionário do Banco de Portugal, professor na Universidade Católica e Professor na Universidade Nova de Lisboa e com horários sobrepostos (mas como não tinha o dom da ubiquidade, era na Universidade Nova que as faltas mais pesaram; por isso o ex-Reitor, na altura, abriu um processo disciplinar para a respectiva demissão, mas o Ministro da Educação Deus Pinheiro mandou arquivar o processo).
c). Existe uma norma (no sector público) não escrita de fechar cadeiras/cursos que apresentem insucesso em cerca de 60% de reprovações (os professores, muitas das vezes, são obrigados a aprovarem alunos com classificações inferiores a 6 valores), então é como acontece nas principais provas do ciclismo internacional, o chamado grupetto (?), como são demasiados os atrasados, a prova pode descrebilizar-se ao ficar sem número aceitável de ciclistas.
Contudo, o Estado lava as mãos como Pilatos, na hora de contribuir para a inversão destas situações. Tenta culpabilizar outros, professores, encarregados de educação, jornalistas, juízes, etc.