No Expresso de hoje (Caderno de Economia, página 22), António Borges, ex-administrador da Goldman & Sachs, (saíu antes de rebentar a bolha porque devia saber o que iria acontecer, face às operações efectuadas, no passado, pela empresa; saíu com naturalidade e não pela porta do cavalo, já que esta foi uma das muitas empresas que, numa das suas vertentes/actividades, contribuiram e foram responsáveis pela actual crise financeira), apresenta, em forma de doutrina evangélica, a solução para o nirvana da nossa felicidade celestial económica, financeira, social, política, familiar e, quiçá pessoal.
Primeiro desculpa os deuses da crise quando afirma que quando se está no centro do furacão, é natural que se perca a lucidez. Depois afirma que o sistema financeiro é um mundo tão complexo (hedge fund) que o comum dos mortais deveria abster-se de opinar sobre isso, dada a sua total ignorância; desta forma, o motor da economia pertence ao intrincado sistema financeiro que numa perspectiva de risco é o único agente económico capaz de captar poupanças (talvez dos infelizes e inúteis depositantes idiotas ou de outros palerma que vêem a Bolsa um desporto como o jogo do Monopólio) e promover o financiamento produtivo, acrescentando que não existe risco para os que tiveram (o azar) de poupar (tem-se visto).
Ora o nosso Homem, atira as culpas para as regulações normativas impostas pelos Estados, quando afirma que é fácil demonstrar que a falência do Northern Rock foi provocada ou pelo menos acelerada pela intervenção desastrada das autoridades inglesas (o Governo Inglês nacionalizou o Banco quando verifica que não tem liquidez para honrar os compromissos devidos aos respectivos aforradores), esquecendo que o sistema financeiro de risco, tem sobrevivido à custa da especulação dos riscos, primeiro com crédito à aquisição de habitação (com 1.ª, 2.ª e uma 3.ª hipoteca e de sobrevalorização no valor dos bens a penhorar) ou crédito ao sistema produtivo sem tomar em linha de conta as garantias mínimas de reembolso (liquidez de activos, nomeadamente quando as chamadas dívidas incobráveis se transformam em créditos seguros) ou quando se compram e vendem acções que nem existem ou têm um valor facial muito inferior ao valor real dos bens representados, embora na especulação apresentem valores 100 vezes superiores (veja-se o que aconteceu quando se deu o 25 de Abril de 1974 em Portugal, quando se descobriu que as especulações bolsistas financiavam algumas empresas tecnicamente falidas por incompetência da Gestão; alguns dos maiores bancos foram apanhados com as calças nas mãos por terem entrado nesses esquemas de financiamento de empresas do Grupo Empresarial em que estavam inseridos; e, nesse caso, a Empresa de Cimentos Maceira-Liz, um caso paradigmático, emitiu acções com valor facial de 200$00 que estavam a ser cotadas, na Bolsa em cerca de 100 000 $00).
Ora, um dos potenciais candidatos a Ministros das Finanças (então é que Portugal vai entrar em bancarrota) do PSD ainda tem a distinta lata de dizer que o grande capital é o que está nos grandes investidores institucionais, para os quais são canalizadas as poupanas de toda a sociedade. As companhias de seguros, os fundos de pensões, os fundos de investimento em geral (...), acrescentado que o que está em causa é, portanto, o interesse de todos nós, ricos e pobres (?), privilegiados ou modestos pensionistas (?). (...) E acrescentando que o capitalismo tem por ideia essencial o primado do mérito...; pensa-se que só dos Financeiros (?).
Então, as actuais movimentações depressivas devem-se ao Estado? Desconhecia que Bush, Gordon, Berlusconi, etc, tivessem ideias de índole socialista, ao intervir na nacionalizaçãode alguns grupos financeiros. Já agora, o que aconteceu aos Administradores desse grande capital? Foram presos e vão ser julgados e condenados e respectivos bens pessoais alvo de arresto pelo mérito demonstrado em incompetência?
O Mérito desses foi de destruir o capitalismo para construir outro mais revitalizante?
Mérito parece, segundo este lírico, aplicar-se não na concentração do sistema produtivo (onde o Estado deveria ser um regulador exemplar), por causa da ausência de concorrência ser nefasta, mas na concentração do poder financeiro, onde a ausência de concorrência até parece ser benéfica (e onde o Estado não deveria ter qualquer acção reguladora).
Para finalizar, o dito cujo, quando acusa o Estado Inglês de ser um dos responsáveis pelo agravamento da situação apresenta-o, no final da entrevista como um exemplo a seguir (?), quando afirma que: talvez um estagiozinho no trabalhismo britânico proporcionasse... uma valiosa e modernizadora educação.
Depois de as ideias liberais terem sido implementadas na dita empresa financeira e que se consubstanciaram nesta situação, António Borges parece pois, preparar-se para usar a lusitânia como próximo alvo destas maravilhosas ideias...
Depois de um Pinto de Sousa a pensar que os tugas são uns idiotas, aparece outro, do mesmo género a querer ser, igualmente, um fazedor de estórias infantis...
Isto de aparecerem uns Sassás Mutemas, sob a capa de D. Sebastião, salvadores da pátria, está a tornar-se não algo passageiro, mas numa virose endémica, pior que o dengue.
Leigo, mas não distraído, nestas questões de análise macroeconómica, na vertente financeira/monetária, sinto-me angustiado perante a inevitabilidade de as alternativas (semelhantes) à governação encontrarem-se reduzidas aos dois partidos liberais (PS e PSD).
Na realidade, verdadinha, V. Ex.ª quer que os Governos, com o dinheiro de todos os contribuintes (será que também o é, fora do campo do IVA?) venham dar dinheiro, como quem ajuda os amigos, ao sistema financeiro. Se as outras empresas também precisam desse €, problema deles, porque devem ser incompetentes/Desmérito...
Claro que o dinheiro posto à disposição de pessoas que especularam não é para salvar aforradores, mas os rendos dos administradores.
Se ser-se Economista e de renome se resume a este tipo de amostra, prefiro os canganceiros de José Lins do Rego.